XXIV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano - XXIV EBCF

Redes do Campo Freudiano sobre a Infância

NRCereda (Centro de Estudos e investigação da Criança no Discurso Analitico) 

CIEN (Centro Interdisciplinar de Estudos sobre a criança)

 

VII Encontro dos Núcleos da NRC-Brasil e a VII Conversação do CIEN-Brasil.

"A família em questão! 

 "A criança - seus pais" 

"A criança - Além dos pais". 

 

Data: dia 27 de novembro de 2022

Horário: 9h a 16h

 

ARGUMENTO

Nohemí Brown[1]

 

Cada época exige uma leitura do mal-estar em jogo nos sintomas que se apresentam. Sem esta leitura, dificilmente encontraremos a posição que nos corresponde para extrair dela uma orientação.

É nesta linha que o texto[2] de Daniel Roy se encontra, e por isso, no Brasil, o temos tomado como orientação. É um esforço de leitura do que se apresenta no consultório e de forma geral na vida: Crianças terríveis... Pais exasperados...

 

Roy se serve de referências de Lacan, pelas quais às vezes passamos rapidamente, e é uma oportunidade para nos deter nelas, introduzindo uma nova leitura. Nova, não no sentido de inovador, mas à luz do que se apresenta somos forçados a um dizer melhor, a contribuir ao discurso analítico como tal[3].

 

Passagem da sexuação aos pais, por quê?

 

Na NRC no Brasil, esse tema ficou circunscrito sob o título Sobre a sexuação: a criança e seus pais.

 

Depois de alguns anos tomando como orientação a formulação de Lacan sobre a sexuação na criança, pudemos localizar a importância da relação da criança com um gozo que lhe escapa. O lugar do corpo como alteridade.

 

A psicanálise nos ensina que a assunção de uma posição sexuada se realiza ao longo do tempo, e se produzem reelaborações. Trata-se de considerar o tempo da criança como um tempo de construção, o tempo de compreender o que lhe acontece no corpo. Onde o dizer do sujeito captura algo desse gozo e não se fecha em um dito. Uma construção que não está livre de invenção, colocada em jogo em cada um, e que não é para todos.

 

Aprendemos que o que chamamos gozo introduz uma desordem no corpo do parlêtre, é desarmônico para ele. Desde uma tenra idade, quando o gozo irrompe no corpo da criança, introduz um enigma do corpo sexuado, não sem mal-estar, perplexidade ou angústia. Os sintomas são a marca singular de uma resposta encontrada pelo sujeito.

 

Disto se desprende a posição do analista, não visando corrigir, nem “normativizar”; do que se trata é de acompanhar o sujeito em sua tentativa de nominar um gozo que excede seu corpo.

 

Parece cada vez mais necessário introduzir um tempo que permita às crianças e adolescentes experimentar suas invenções e construções, sem que elas tomem um caráter de patologia ou de empuxo a um - ele é assim. E isto não se faz sem os pais. O que abre para o impacto que os discursos atuais têm na criança e seus pais. Se com a sexuação localizamos que a criança lida com um insuportável que vem de seu próprio corpo, há também um insuportável para os pais. Acolher os pais poder extrair o ponto da angústia que os leva ao desespero. É quase como se um tempo tivesse sido pulado também para os pais. Insuportável para cada um, sem que isso se circunscreva em um dizer singular. Sem formular, ao menos, uma questão a respeito.

 

Um destaque que nos orienta: O Hífen

Podemos dizer que este tema nos introduziu a algo que acontece de forma cada vez mais evidente. Pais que não sabem o que fazer com os filhos; retomando um significante de Miller: desbussolados[4]. Estão no limite. Mas também crianças que parecem não ter limite.

 

Tem algo no hífen, colocado no título por Roy, do qual nos podemos servir. Não é só a criança terrível e os pais que não sabem o que fazer. Entre um e o outro há um laço de união e separação, no melhor dos casos. Uma singular forma de fazer família. O insuportável na e da criança marca esse impasse. Mas cabe dizer, o insuportável da criança para os pais não é simétrico com o insuportável para a criança. Há que localizar isso em cada um. Como acolher o sofrimento, exasperação ou angústia dos pais? E como acolher os sintomas das crianças?

 

Mas, quem são os pais? A própria Judith Miller[5] já indicava que atualmente não se sabe muito bem quem é o adulto, a criança e o adolescente. E Brousse[6], destacou que com o termo parentalidade se dilui a diferença entre pai e mãe, aspecto que não é qualquer coisa para uma criança.

 

Então, quem são os pais? Ou o que faz família para esta criança que se apresenta nos nossos consultórios?

 

Núcleo Biloquê (GO) - Núcleo Carrossel (BA) - Núcleo Ciranda (SP) - Núcleo Curumim (RJ) - Núcleo Daí Guri (PR) – Pardorga (SC) - Núcleo Pastoril (PE) - Núcleo Pererê (MG) - Núcleo Telêngo Tengo (RN) - Núcleo Uni Duni Tê (PB)

 

[1] Psicanalista, membro da EBP/AMP. Coordenadora da NRCereda no Brasil.

[2] ROY, D. Parents exaspérés-enfants terribles. Disponível em: https://institut-enfant.fr/wp-content/uploads/2021/01/PARENTS_EXASPERES.pdf

[3] MILLER, J.-A. El niño y el saber. In: Carretel, n. 11, 2004, p. 13.

[4] MILLER, J.-A. Uma fantasia. In: Opção Lacaniana, n. 42, janeiro, 2005, p. 7.

[5] MILLER, J. O que é o CIEN? In: Crianças falam! E tem o que dizer. Belo Horizonte: Scriptum, 2013, p. 25.

[6] BROUSSE, M.-H. O buraco negro da diferença sexual. Disponível em: http://www.revistarayuela.com/pt/006/template.php?file=notas/el-agujero-negro-de-la-diferencia-sexual.html